terça-feira, 10 de novembro de 2009

Espermo-poema

I

Porque a gente nunca sabe onde começa.
Assim vai, monta peça a peça e pensa:
"que merda é essa?", e se lança
pra ver se alcança o futuro no presente
ao passar pelo passado
mas cuidado!
Ele ainda não sabe como é ser
visto que mal chegou a nascer
e não se pode descobrir
se ele um dia será
ou se apenas seria.

Nasceu no meio da noite
pra se fazer valer ao meio-dia.

Ao mundo veio
com um sem-fim de veias
abertas pulsantes auto-suficientes,
um ser que é seio de seu ser
e veio como veio para se alimentar
do sentir, do saber - do próprio seio cear.

Bebe, se embriaga, fica leve
e o Diabo que o carregue
de mim,
que Deus já me rege.



II

Ponto. Ponto. Ponto. Ponto. Ponto.
Ponteiro........................................
O mundo inteiro despido
passa desapercebido
no corredor da maternidade;
e é carregado num colo feminino
que já faz meninos desde a mocidade;
e é nesse toque divino
com o que já foi tocado
que ele se percebe, matutino,
antecipando seu governo-estado-nação;
e são dois os leitos do rio
que devemos seguir sem feri-los;
e são dois os mamilos, os peitos,
vindos de uma mesma carne
- carneidoscópica -
que é córnea e que guia no sopro
que é córnea e que guia no sopro
que é córnea e que guia no sopro



III

Com o tato ele faz o contato.
No olfato percebe o fato.
Usa a visão para não
gastar sua fala
e na audição faz amarrá-la
à visa
de outro nome ainda escondido
mas que já se apresenta
tímido e contido:
com vida.

Como veio, está.
Um pouco fica mas logo muda
e comove
de como veio para como o ouvem,
que o louvem, o adorem,
que o carreguem no colo
por toda a praça do mundo
- os olhos do povo, Deus mais que profundo.



IV

Onomatopeizando
o mundo mundano
é que percebemos
o todo-engano,
o que perdemos.

Pois que perduraremos
como dissessem estar vivendo
em remendos de uma redoma de vidro,
pois que perduraremos
porque não somos os sonhos que teremos,
pois que perdoaremos
os equívocos, os mártires, os cristos
- e oremos, porque ainda somos pequenos.



V

Ouviu-se o primeiro batimento no berço
que ao bater se autoconstrói
passo a passo,
verso a verso,
sem nunca parecer que dói
o corpo tão frágil e terno
mas pronto a perder-se no mundo
da repetição,
das escrituras,
dos desalentos.



VI

Agora que o único é toda uma unidade
podemos dizer que úmida
é a data deste nascimento,
humilde ser sem qualquer vontade
à parte de todo acontecimento,
convertido da água pra insanidade
coagulada
coexistindo com o aborrecimento
- amamentando a chuva com poeira
como se o fizesse amiúde -
e humilhando-se ao levantar bandeira
de uma completa e sóbria infinitude.

Cadê suas faces para dar à tapa?
Nada se responde
em curiosa dor masoquista e anarquista,
não anda nesse bonde
porque não lhe compete
e antes que sua arte se mate
ele mira na testa do cervo
- atira e assegura a maldade
que motivo não há para ter medo
e esse é o seu segredo,
sua grade de ferro que isola
o mim do fora,
o futuro do agora.



VII

lá fora
agora
a hora travou
e o relógio caiu de podre
no chão coberto de aurora
agora
embora
não haja sucesso ou estrela
no céu repleto fora a fora
besteira
que porra



VIII

A noite é dos grilos:
melhor naão impedi-los.
Há sufoco na libertação
e não confunda, por Deus,
com libertinagem
ou falta de consideração
essa concha improvisada
que mar algum depositou
em caminhos mortais de homens mundanos.
Isto é prosa, é recurso, é caminho:
um bip e um chuá
embalados pra presente
em dia de domingo.
Devolve ao mar o mar numa garrafa,
deixa cair a madrugada
e sinta o fluxo dos sonhos em comunhão como se fosse a legítima força da natureza mesma que impressiona com resposta prática e apoteótica às perguntas que não são feitas mas estão pulsando sem explicação aparente para quem nunca alcançou o âmago de sua agonia enraizada como árvore centenária plantada no chão em que a noite nasce sempre inocente por causa do som da terra se expandindo como fosse o Universo observado e apenas por nós observado assim como o caminho desta solidão nostálgica foi encontrado através de um ai conjunto nascido ao mesmo tempo como um mantra na boca de todos na boca de todos na boca de todos na boca de todos na boca de todos na boca de:




Brayan Carvalho

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