domingo, 25 de outubro de 2009

Arquivos shakespeareanos secretos

De: Benvólio (benvolio@montecchio.com)
Enviada: sexta-feira, 25 de abril de 1591 18:47:52
Para: Romeu (romeu@montecchio.com)
Assunto: Rosalina! xD

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fala aí romeu, vi a rosalina hoje de tarde e ela me disse que ta querendo ver se fala contigo sábado agora ^^ diz ela que os pais vão visitar uma tia fora de Verona e talvez só voltem no domingo de manhã, rs.

AEEEEEEE moleque! \o/ rsrsrsrs


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De: Romeu (romeu@montecchio.com)
Enviada: sexta-feira, 25 de abril de 1591 23:32:24
Para: Benvólio (benvolio@montecchio.com)
Assunto: RE: Rosalina!
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mas cara, amanhã é festa dos capuleto lá... lembra que o mercúcio falou com a gente semana passada? se eu não for ele vai ficar cheio de gracinha pra cima de mim, tu sabe como ele é ¬¬ e a rosalina também é toda fresca, ela fica só instigando mas não dá em nada, é toda insegura... se tu ver ela até amanhã de noite fala pra ela que na~o vai dar, diz que eu to triste pra caramba por isso mas é que minha família só tem psicopata, huauhahuahua!

abraço, primo!


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De: Benvólio (benvolio@montecchio.com)
Enviada: domingo, 27 de abril de 1591 12:05:19
Para: Romeu (romeu@montecchio.com)
Assunto: Cadê tu, cara????

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romeu, cara, que houve ontem que tu ficou lá nos capuletos até altas horas? tá maluco, véio, os caras são mó violentos e teu pai não ia gostar de saber que você fica indo na festa do grande inimigo dele... se dá merda lá e chega aos ouvidos do príncipe a coisa fica feia é pro teu pai! o mercúcio que é maluco, eu só ando com vocês ainda porque a gente é primo e eu considero o mercucio pra caramba e tal, porque pqp hein! --'

vê se me responde, seu doido!


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De: Romeu (romeu@montecchio.com)
Enviada: domingo, 27 de abril de 1591 15:40:02
Para: Benvólio (benvolio@montecchio.com)
Assunto: caaaaaaaaaaaara!!!11!

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maluuuuco, cê não vai acreditar!! caraca primo, a filha do capuleto é muito gata! tipo, muito mesmo! a garota deve ter a minha idade, sei lá, e é muito simpática também! véio, a gente se beijou, tipo que rolou uma dança lá e ela saiu meio tonta pra beber alguma coisa, daí eu fui atrás (de máscara, claro) e cara, eu fiquei todo bobo perto dela, a menina é muito linda, toda perfeitinha, toda meiga, não aguentei, tive que beijar!!! só não deu pra ficar muito tempo lá porque a ama dela apareceu e tal, mas eu disfarcei numa boa, fingi que nem era comigo rsrsrsrs...

aí encontrei com vocês do lado de fora e tal, depois sumi de novo, lembra? tipo, eu escalei o muro da casa dela e falei com ela, olha que doideira que me deu, kkkkkkk, mas é que eu tinha que ir lá cara, eu precisava falar com ela direito, calmamente... benvólio, acho que gamei o.Õ e a merda é que é filha do capuleto, aí ferra tudo. mas ela é pra casar, de boa, nem que seja escondido!

aí, o nome dela é Julieta! bonito, né não? *.*
abração o/


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De: Benvólio (benvolio@montecchio.com)
Enviada: segunda-feira, 28 de abril de 1591 22:00:38
Para: Romeu (romeu@montecchio.com)
Assunto: RE: caaaaaaaaaaaara!!!11!

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aí, namoral romeu, to sem palavras contigo ¬¬ continua com isso e cê ta morto, mano, tu e essa tua Julieta aí. quando a rosalina souber disso vai rir da tua desgraça e eu vou dar razão!

só faz merda hein, pelamor!!!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Bomdia

Lara quem criou a palavra. E sem querer (ou querendo, vai saber) criou um novo mundo, como fosse fácil. Mas cá entre nós, deve ter sido, porque é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre pra chegar ao ponto de pronunciar tal palavra. Bomdia é a substituta de todas as máximas que abriram todos os portões para a humanidade, das artes às ciências passando pelas descobertas e invenções e reinvenções e bireinvenções de toda a civilização. Bomdia é palavra pra quem ama - o pai a mãe a família os amigos o amor da vida as coisas do mundo as coisas da vida. Caleidoscopicamente falando, assim mesmo.

Bomdia é um "BOOM!"dia, é palavra forte capaz de levar pessoas desavisadas às lágrimas, desacostumadas que todas estão a... É que não se olha mais para o lado, e bomdia é o giro trezentos e sessenta graus voluntário, sem intenções cinematrográficas - é documental, baby. Bomdia é escutar as pessoas enquanto se fala com elas, é distrubuir abraços em ouvidos sem pedir nada em troca. Bomdia é doação por excelência.

Sonho premonitório com final feliz: bomdia. Sonho de consumo dos sonhadores - realizadores em potencial. O amém dos populares, a boa nova dos lúcidos, a fibra dos laços que nos unem, a preliminar do gozo de existência, o recordista educado das competições educadas entre expressões de educação. Mas nunca redundante como essa última frase. Bomdia é da moda Primavera/Verão e da Outono/Inverno também, top de linha, uma belezura. Peça indispensável no vestuário espiritual.

À noite: bomdia. Bomdia vinte e quatro horas por dia: seu conselho é: pra te ver feliz. É a palavra que se diz ao fim da hipnose, quando o mesmerizado deve despertar, diz-se bomdia para o homem hipnotizado pelo cimento que não deseja nada; para a criança que está perdendo a infância; para os jovens fingindo aprender e aprendendo sem saber; para o tiozinho na praça com tanta história pra contar, tanta história que ninguém quer ouvir. E bomdia é a chance que se dá ao senhor, aos jovens, às crianças, ao homem da cidade. Todo mundo. Todo o mundo.

Bomdia é o pão de cada dia da felicidade.



Brayan Carvalho

domingo, 11 de outubro de 2009

dialética da formação

meia-noite
os olhos recurvos
os sonhos retintos
na sala apagada
_____de projeção
as vozes brincalhonas dos meninos
que fui
e que hoje tilintam
imemoriais metais
são solidão simplificada
figurinhas de ciranda
__________________ausentes
do meu álbum
debaixo
do meu primeiro casaquinho
na terceira de sete
gavetas
- de repente sei que não
não posso
justificar em alguma
_________travessura
do presente
o fato
de ter sido
________________esquecido
por mim mesmo.



Brayan Carvalho

sábado, 10 de outubro de 2009

Polifemo D.C.

I

Tão breve a brisa
tão longe o leste
tão forte a morte
tão muda a fonte
tão alto o monte
tão só, gigante,
tal nunca antes.

Teu olho cego
teu leigo medo
tua voz incerta
tua dor no peito
teu medo incauto
teu nome, aceito,
teus grandes feitos.

Teu sonho, um clone,
tão clap-clap
veloz galope
sem ter claquete
ou envelope
você, ciclope,
grande ciclone.


II

Em sua ilha à noite, derrotado,
qual sua verdade, una e tão sem calma,
se esconde, ridicularizado,
o ciclope, a quem ninguém bate palmas,
que já não basta, memória salva,
lembrares só, de um tempo tão errado
e remoto
pois se o mundo jaz morto
não voltas ao passado
nem será tão ingrato
se então ficares louco
e desmemoriado
no terremoto
dos outros corpos
catequizados
humanizados
pro teu engano
- teu desespero -
que, tão profano,
se revelou estéril de segredos
e trindades sagradas
sem heróis gregos
na
so
li
dão
não
ha
ve


III

(nada)




Brayan Carvalho

Sobre a Espera

Aqui. Reciclando qualquer segundinho daqueles nossos naqueles nossos momentos, requentando os cafés que só eu bebo, levando ao congelador e tirando do mesmo toda tarde os pães de queijo mordiscados na pontinha em tarde fria de domingo pela manhã: souvenirs. Nosso café da manhã. Nosso sofá de três lugares, dois corpos e uma única vontade. A foto no assento do ônibus, o dia nublado lá fora mas claro com raios pálidos de sol rasgando o cinza das nuvens na harmonia absurda da Natureza. Sua singeleza tímida, sua capacidade reflexiva límpida e enfeitada por alguns gramas de perplexidade. A síntese no sorriso, na ruga de canto de boca que ensaia perfomance algumas décadas mais tarde, o sucesso de uma piada infame fazendo escola nos seus músculos faciais e nas suas sinapses nervosas, suas mãos pequenas sendo levadas automaticamente ao rosto pra abafar o som da gargalhada que poderia incomodar o moço dormindo três assentos mais à frente àquela hora tão incomum.

Aqui. Sorvendo maresias distantes ao longo dos dias, comprando balas e as mordendo e as engolindo cheias de pedaços verdes azuis vermelhos quais as cores das balas que compro? Tomando bondes errados nas direções opostas. Mas bondes não existem, e concluo que vou só, que vou by myself. Saudade globalizada, mas ainda sem tradução. E o mundo é grande e não é redondo e caramba, estivemos juntos? Ou é isso a antecipação de uma semana que vem, de um mês que vem, de um ano que vem, de uma vida que vem? Dentro da vida mesma? Todo dia é uma solitária fotografia. E isso está ficando muito óbvio, mas é que esgotei a linguagem - não a do mundo, mas a minha neste momento. Falha humana, minha que sou humano. E morro por ela (colocar o nome aqui), morro de espera. Pera: para.

Lá. Mistério, meu coração, a ressonância de uma certeza discreta. De uma certeza que é reticência pro mundo, mas exclamação pra mim. E que por isso resume, faz ser bastante, torna suficiente todo e qualquer espaço em branco. Porque está além. Numa esfera transcendental, que vai nos levantar e vamos levitar e levitar e levitar até o tudo se tornar __________.


Brayan Carvalho

Microwave

Olho pra você e me sinto como quem não sabe de si. Há um quê de esquecimento quando estamos frente a frente, um descontentamento repentino. Estamos separados pela Física, eu na obviedade que é meu fado e minha brisa e não tenho tantos segredos. Você mascara, dissumula, você adiciona camadas diferentes a diferentes situações. Compram, usam, cuidam de você, todos tão acostumados, todos tão atuais. Seu amor é nocivo que faz bem. Sua história é de repente.

Chegamos ao ponto em que preciso de você. E como tocar, como sentir segurança em sua boca? Por onde devo deixar o dedo deslizar em seu corpo pra que eu me sinta satisfeito? E me sentirei assim, afinal?, já que não sei as razões que lhe movem? Posso me alimentar das coisas que você me oferece sem temer a enganação? Você é uma pergunta centenária e vive em minha casa, a 5 metros de minha cama - eu que sou tão resposta, todo afirmação, tanto sim - esquentando pães, milhos, batatas, águas, minha cabeça. Por que de repente preciso? Bah, que impreciso, isso.

Tudo tão de repente me faz repentinamente a onda refletida nesse romance viniciano pós-moderno no qual eu sou a garota correndo a caminho do mar e você é o sol. Que não está lá. Mas queima. E o mundo que gira é o prato sob meus pés, recebendo e repelindo, recebendo e repelindo, recebendo e repelindo. Que lindo. Que mágico. Um forno. Você. Eu. Pra onde olhar quando você avisa que terminou? Abro a porta, projeto a mão adiante e não sei o que você pode fazer com ela. Peço licença como quem se ajoelha frente a um crucifixo. Mas não tenho respeito; tenho medo.


Brayan Carvalho