sábado, 10 de outubro de 2009

Sobre a Espera

Aqui. Reciclando qualquer segundinho daqueles nossos naqueles nossos momentos, requentando os cafés que só eu bebo, levando ao congelador e tirando do mesmo toda tarde os pães de queijo mordiscados na pontinha em tarde fria de domingo pela manhã: souvenirs. Nosso café da manhã. Nosso sofá de três lugares, dois corpos e uma única vontade. A foto no assento do ônibus, o dia nublado lá fora mas claro com raios pálidos de sol rasgando o cinza das nuvens na harmonia absurda da Natureza. Sua singeleza tímida, sua capacidade reflexiva límpida e enfeitada por alguns gramas de perplexidade. A síntese no sorriso, na ruga de canto de boca que ensaia perfomance algumas décadas mais tarde, o sucesso de uma piada infame fazendo escola nos seus músculos faciais e nas suas sinapses nervosas, suas mãos pequenas sendo levadas automaticamente ao rosto pra abafar o som da gargalhada que poderia incomodar o moço dormindo três assentos mais à frente àquela hora tão incomum.

Aqui. Sorvendo maresias distantes ao longo dos dias, comprando balas e as mordendo e as engolindo cheias de pedaços verdes azuis vermelhos quais as cores das balas que compro? Tomando bondes errados nas direções opostas. Mas bondes não existem, e concluo que vou só, que vou by myself. Saudade globalizada, mas ainda sem tradução. E o mundo é grande e não é redondo e caramba, estivemos juntos? Ou é isso a antecipação de uma semana que vem, de um mês que vem, de um ano que vem, de uma vida que vem? Dentro da vida mesma? Todo dia é uma solitária fotografia. E isso está ficando muito óbvio, mas é que esgotei a linguagem - não a do mundo, mas a minha neste momento. Falha humana, minha que sou humano. E morro por ela (colocar o nome aqui), morro de espera. Pera: para.

Lá. Mistério, meu coração, a ressonância de uma certeza discreta. De uma certeza que é reticência pro mundo, mas exclamação pra mim. E que por isso resume, faz ser bastante, torna suficiente todo e qualquer espaço em branco. Porque está além. Numa esfera transcendental, que vai nos levantar e vamos levitar e levitar e levitar até o tudo se tornar __________.


Brayan Carvalho

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