quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Quantos...

Olhava para a mesa em uma certa dúvida de sempre: se sempre fosse assim um espaço plano, o nada seria a queda, mas se o nada fosse, não seria nada...Divagações, apontamentos inúteis, eram um bom passatempo ao menos. O importante é que pensava nela e só conseguia vê-la em nuances de versos, por detrás das rimas: estes tempos que passam sozinhos versam sempre uns bordados belos de palavras: para ele eram bordados desiguais e belos, vermelho sangue dos cabelos dela...

Dos cabelos não esquecia: pôr de sol sempre pondo em semfim de firmamento, como se fossem os olhos dela, os olhos dela assim: astro-i-lógicos em madrugada pele branca e morna!

Como queria que amanhecesse assim, aos poucos, em sua pele, que deitassem sobre ele aquelas brumas quentes e que aquela dúvida que ela tinha estivesse tombada no chão frio dos palcos: se toda a dúvida fosse mentira seria uma bela atuação sem cortes... Coragem dos heróis mascarados dos quadrinhos...Mas os heróis sempre morrem míticos e mudos como o h de presságio...

Ela já corria toda pelo seu sangue, redividia as veias, resfacelava a carne, tingia vermelho o sangue e as paredes dele com seu nome: mesmo quieta e calada reverberava-se em eco eterno! Como o mundo é vazio sem ela, como ecoa ela em todo vazio, enchendo tudo em enchurradas de março!

Quantos anos dormem em um dia sem ela? Quantos sonambulam burlando o sono? Quantos têm nanose de minutos?

A mesa continua toda e parada, pelos pés dela escorre um nada que pensei que enchesse tudo, já não é março, mas uma chuva afina a realidade...a tarde talvez não venha vermelha, mas fria! Ainda há um dia acabando-se em versos por ela e eu, por dentro, escorro todo em vermelho!



Eduardo Martins

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