domingo, 30 de agosto de 2009

Seis cachorros, três cadelas, trinta e dois feirantes e um menino chamado José

A cidade inteira chora um pouco:

Uma criança morta na rua da feira, perto de comida, já tinha um pão velho na mão quando assassinou-se! Verdades também são crianças de joelhos mortos!

A cidade inteira correu, como sempre, no sempre parado e os cachorros tiveram o que comer de verdade na rua da feira: sem bagaços, a carne era fresca e dura e magra, mas já tinha vermes!

Não houve quem reclamasse da mancha de sangue no chão: as pessoas souberam por uma vez que eram perecíveis e depois a memória pereceu velha: depois de correr para dentro de si mesma e assassinar-se!

Eduardo Martins

5 comentários:

  1. Bem, isso acontecia de verdade na Idade Média, quando crianças eram abandonadas nas ruas e acabavam devoradas por algum bicho, até que Vicente de Paulo inventou o orfanato.

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  2. Rsrsrsrs! Pior é que acontece até hoje, não faz muita diferença da Idade Média, na verdade!
    Crianças na rua, as vejo todo dia! Vicente de Paulo colocou muita morte entre quatro paredes!!!
    Valeu a presença!

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  3. Olá, Eduardo. Seguindo tua recomendação, deixada na comunidade de Rubem Braga, criada no famigerado Orcute, entro, a partir de hoje, a visitar este teu blogue.

    Neste texto, a naturalidade com que o homem encara a paisagem escatológica que se contrói dia a dia é muito bem descrita, com a ironia e o preparo de quem sabe tocar na ferida.

    Parabéns pelo blogue.
    Um abraço.

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  4. Olá Eduardo!
    Muito bom os textos de seu blog...parabéns!!
    Vi seu recado na comunidade de Clarice Lispector e vim conferir...gostei do que li!
    um abraço,
    Ana

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