sexta-feira, 10 de julho de 2009

Cinemacidental

De vagar devagar, virou fantasma.
Assim, sem menos nem mais ou menos nem mais. História pouca, vida parca. Passou despercebido, sequer foi ouvido como pernilongo-vampiro à noite à espreita à meia-luz à meia-noite. Hora dramática, vertiginosa, clímax sem gozo dele porque o rolo de filme acabou na sala de projeção e ainda muito faltava para saber quem era o assassino. Mas era o mordomo, dono do mundo. Háh! Parecia piada.

Fantasmizado, decidiu ir contra todas as paredes. Era sua chance de encontrar quem sabe não se sabe o quê. E de não saber o que se pode encontrar (principalmente quando se é fantasma), chega ao fim. Sim, a história. Começa ali, acaba aqui. Um barbante estendido sobre uma fogueira, que vai cedendo aos poucos, partindo suas fibras numa dança hipnótica e constante. Até que.

Foi bom pra você? Perguntou Deus a ele na mesa do bar àquela hora da manhã do dia seguinte ao fim da filmagem do que não é captado - ele. Making of pra sempre. Vida moderna, é o Grande Irmão em seu abraço receptivo: junte-se a nós e terás mais nós, essa é a mensagem que ninguém entendeu ainda. Só ele. Não Ele, só ele mesmo.

A vida é um doce que ninguém compra. Veio a primeira mosca, voou voou voou ao redor, p-o-u-s-o-u na pausa habitual e esfregou as patinhas miudicíssimas pensando agora é o momento de desfrutar. Coitada. Provou, não gostou, levantou voo novamente e desbaratada (numa clara traição involuntária à sua natureza) foi morrer em menos de 24 horas. Há uma obediência, percebe?

Quando a menina acordou no dia seguinte, ninguém a observava. Imaginou que com isso já estivesse melhor, que a febre teria passado e que a mãe o pai quem quer que seja estavam dormindo ou recompondo os ânimos gastos na noite difícil-anterior. Saiu da cama com os pés nus, os olhos semicerrados e nas pisadinhas leve sobre o chão frio ela foi andando assim: _ _ _ _ _ _ _ e chegou na sala. A cena que ali se apresentava era um verdadeiro teatro dos horrores. Que cena era? Só a menina viu a mosca morta virando fantasma do outro lado da rua através da janela aberta em manhã de Sábado (!) porque alguma coisa aconteceria sem aviso e, sem aviso, o mordomo veio da cozinha. Era o tal do fim do filme do. À Ele.



Brayan Carvalho

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