sexta-feira, 10 de julho de 2009

Telha do(i)s

Se ela ainda andasse nua pelos telhados das minhas casas construídas, cenográficas, perdidas, pornográficas, caladas nas ruas dormentes de sempre ser ruas, carregadas de gentes correndo em horas mortas, revivas, repostas em um mesmo lugar das ruas, das casas nuas em meus telhados de horas mortas, revivas e postas nela nua, resposta reposta para as fatias de horas mortas que chamamos de dias.

S(´)e(ria) a verdade das coisas de hoje, dependuradas nela, sempre razoáveis e vazias à luz de um dia velado por dias passados, repetidos e gratos de ser novo dia, de útero esquife perdido na terra da guerra ganha dos tempos sem ela, janela dos tempos: meus olhos nos dela.

Partiu um dia, o dia inteiro, em pedaços idos, findos, perdidos em passos de pés amputados que levam urna sagrada da vida sangrada dos dias dela. Sem ela há dias senis e mudos, encostados em canto de paredes de casas que nos telhados têm ela nua, rua dos dias de outros dias mais heroicos de passos dela nua nas ruas dos dias em telhados de casas perdidas.

Corajosa, bailarina pisante de arranhacéus: pernas viventes de mundo defunto de plano de vida perdida na ferida de dia partido em alarido breve dos leves suspiros de outros dias sem ela.

É certo que: cada passo balaço de chuva na tela de telhas dantescas do alto do mundo

Seria você: Um sopro de livros, assassino vencido, suspirando e empurrando os tijolos dos muros

E: certa de ser você nas mãos abraçadas nas minhas mãos frias

Correria: vadia canoagem de pele plumagem de ave perdida

Até o telhado: Tablado do dia



Eduardo Martins

4 comentários:

  1. A imagem da invenção sobremoderna, que move parada, diz calada, inventa significados e potências ao interlocutor, bem criativamente escrito e ilustrado, sintonizando com a cultura atual. Legal, amigo!
    beijo

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  2. Olá, aceitando o convite feito no Literar, estou a cá.
    O texto é belo e não cansa, porque tem movimentos cenográficos. Eu gosto muito.
    Obrigada, volto em outro post.
    Parabéns à dupla de amigos.

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  3. Obrigado pelos comentários de todos! Fico feliz pela presença de vocês no blog!
    Um beijo!

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  4. Oi Eduardo,

    Estou apreciando o blog. Os textos são poéticos, carregados de imagens, metáforas, surrealismo. Belos, parabéns!

    abrs

    Ana

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