sábado, 18 de julho de 2009

Valete, Dama, Rei

Não mais quis perder o rosto nos rostos vazios de si na vida das ruas unidas, das avenidas verdadeiras de marchas firmes e rotas de outras marchas, afogadas à força nas chuvas de março, repetidas assassinas sem tempo, sem álibi para não estarem suicidas e chorosas viúvas de rosas amarradas ao chão sem ventos.

Abençoado Rei de Espadas, das cruzadas de mim mesmo, não o sei mais se vejo minha glória desposada por sua derrota em queda fria de guerra morta nos meus braços e eu, de braços dados com a intocada rainha, sabendo ser minha a guerra apenas: filha morta sem padrinhos, caindo em sono surdo de coma induzida pelos dias sem vida das mortes sãs!

Não foram passos afogados que pisaram em mim para entregarem meu brasão encarnado por entre as costelas, por entre sequelas em vigília armada para guardarem-me de mim. Foi a mão firme da tua virgem coroada e nua, jorrando da boca um março afogado pelas minhas veias de sereias goles, bebendo disformes as paredes de meu sangue, por entre março passado, aguado de tempo.

Cobriu-me um firmamento vestido de queda de anjo perdido em bramido de Deus. No chão um vento estranho caiu à procura de luzes elétricas sozinhas em pontas de ruas santas e crucificadas , não sobraram mais cantos de vozes femininas para queimar em parafinas os próprios cabelos, os desesperos de sereias nuas, caídas nas ruas, arruinadas de desejo, sem respiração de chuva, sem comer as uvas de Deus bramido na boca absorta em asas de anjos caídos nos punhais da Casa Real de Espadas: proteção das estradas de um março perdido em contagotas de dias caídos entre as minhas costelas.

Eduardo Martins

Um comentário:

  1. Gostei bastante do seu "poema em prosa". Parabéns!
    Continuarei acompanhando o blog. Mt bom q hj a gente tenha essa possibilidade de publicação!

    (vi seu endereço na comunidadeda Clarice Liespector)

    Bjs,

    Sílvia Barros

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