quinta-feira, 9 de julho de 2009

,eu,

Apêndices do sono: eu na frente do espelho, a manhã na frente da janela, branca e cega e leve e muda! Eu calado, ainda, por enquanto, apenas, passando uns poucos minutos sobrevivendo a um silêncio que nas ruas lá debaixo do prédio se perde em burburinho disléxico e absurdo, repleto de casos de ontem, de saudades de passados repetidos à conta gotas, nas veias do mundo, um anestésico firme para olhos trêmulos por cima dos ombros ossudos dos velhos largados em calçadas, empregos duvidodos de existências desistidas.

Olho para a barba espaçada no espelho, a certeza vem das mãos passantes leves como febres de dias recém vindos, está na hora de escanhoar o queixo para ser descente para as pessoas das ruas para as mulheres principalmente, para calar o silêncio no cochicho profundo e acanhado de crescido nas bocas dos bueiros de gente nas ruas, invasivas diárias de si, como ratos roendo por dentro os ratos.

Tremo com a lâmina perto dos lábios: ou mato a máscara largada de dias, ou morro da revolta da algoz beijando meu pescoço, fria e assassina, são opções e exageros. Coragem, deixo ser machado a mão lívida da idéia para vestir o capuz da praticidade. Luzes acesas, muito cirúrgicas e brancas nos ladrilhos do banheiro, sem mais exageros, a face escanhoa um pouco mais bruta que antes e penso em parar com medo de ver diferente o rosto há tempos largado à contagem do tempo natural de um rosto qualquer, sem muita seriedade ainda, sem nenhuma seriedade ainda. Ainda, nada demais, nunca demais.

Muito pouco tempo para ter mudado o abrigo dos olhos tristes, que me disseram que eu tinha pregado na cara de criança com ares de séria! Nada ainda, não mais que isso, mais talvez nunca, já mais que jamais tive: postura de olhar voltado para dentro em afogamento sem desespero!

Resolvi esperar, resignado e enganado, acontecer alguma coisa que mudasse: Muda de si mesmo nascendo nas barbas, nos cabelos, tornando o corpo inteiro uma coisa menos morredoura que a expressão de garoto cancelado pelos livros, mortos dissecados em minhas prateleiras!

Resvala do meu rosto um pouco de sangue, meu e da lâmina, agora mais corada e menos digna das musas doentias que imitava, e ela, num arroubo de mulher sem vícios de virtudes, beija-me envergonhada e corre-me no lábio o gosto do sangue do lábio que a boca não sentiria.

Estranho não saber do que /s/t/e pertence!


Eduardo Martins

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